sábado, 21 de março de 2009

Aconteceu comigo

Segue abaixo um diálogo entre mim e o Dr. Luke.
O ocorrido:

Em 19 de dezembro de 2003, eu possuía 3,5 graus de miopia e 1 grau de astigmatismo em ambas as vistas, e que conseguia, confortavelmente, enxergar usando óculos, comuns, ou lentes de contato do tipo – gelatinosas .

Ocorre que, motivado pela perspectiva de enxergar sem a necessidade de usar óculos ou lentes, eu, acompanhado de meu pai, procurei os serviços especializados de uma Cínica, que foi indicado por amigos, com a intenção de corrigir, através de intervenção cirúrgica, que prometia ser de total êxito, a minha deficiência visual. Alcançando assim a perspectiva almejada.

Confiante no que me foi prometido, resolvi então prosseguir com a operação corretiva seguindo as orientações praticadas pela clínica. Comecei a realizar os procedimentos necessários que envolveram o ato cirúrgico, como exames pré-cirúrgicos que foram realizados, em 13/12/2003.

Foram feitos os seguintes exames: topografias, paquimetria e ultra-sonografia corneana. Todos feitos como sendo os necessários para o procedimento cirúrgico. E, afirmado pelo mesmo médico, que também realizou a cirurgia; que os resultados estavam ótimos e que minhas vistas estavam ambas perfeitas, em condições de sofrerem a intervenção cirúrgica sem nenhum risco. Garantindo-me 100% de êxito quanto à correção do meu grau visual. Que no máximo poderia advir da cirurgia um pequeno grau residual, o que seria corrigido, com outra cirurgia de ajuste e sem dúvida o resultado total seria de 100% de êxito.

Acreditando nesta afirmativa e confiante da promessa, fui submetido em 19/12/2003 ao ato cirúrgico denominado de: cirurgia refrativa com EXCIMER LASER LASIK em ambos os olhos, e, no mesmo dia.

Ato seguinte a cirurgia, foram realizados os acompanhamentos pós-cirúrgicos, já sendo constatado por mim , que algo não ia bem, pois sentia certos desconfortos e dificuldades em enxergar. Relatava os sintomas em minhas consultas rotineiras, e era informado que se tratava de sintomas normais do pós-cirúrgico e que logo desapareceriam. Talvez e por fazer uso à época de colírios e outros medicamentos, que proporcionavam alívio, mas sem, efetivamente, fazerem desaparecer os sintomas desagradáveis, que sempre ressurgiam; eu continuava a acreditar nos procedimentos da clínica.

Porém, a situação só se agravava e no dia 09/11/2004 (quase onze meses após o ato cirúrgico), não suportando mais tamanho desconforto visual, procurei diretamente o médico que me operou. Este, examinando-me concluiu que havia se desenvolvido um grau residual e que se fazia necessário iniciar um tratamento de ajuste, para o qual receitou o uso de óculos com adição de 1 (um) grau que iria corrigir e resolver facilmente o problema. Nada feito. Novamente retornando ao consultório em 04/01/2005, foi receitado outro óculos, que como o primeiro continuava completamente ineficiente. Daí já começaram as mentiras, pois ao olhar meus olhos o médico tem conhecimento suficiente de que algo estava errado e que precisaria ser investigado e, negligentemente, nada foi feito.

A esta altura, a minha deficiência visual era tamanha, que começou a interferir em minhaa atividade profissional, pois, como foi afirmado no parágrafo acima, os óculos que estava usando em nada melhorava a sua condição visual, impedindo-me de realizar as tarefas laborativas. Motivo pelo qual, em 03/02/2005, fui encaminhado ao Hospital da Marinha (Marcílio Dias) e, detectado pelos médicos de lá, que era possuidor da doença denominada Ceratocone em ambos os olhos (eu que nunca tivera conhecimento da existência de tal doença, até aquele momento). Sendo recomendado ao Comando ao qual está subordinado, o afastassem de várias atividades que desempenhava a época.

Assustado, voltei à clínica e procurei diretamente o Dr. Fulano em 30/03/2005, contando-lhe o que estava ocorrendo, e pedia suas providências, já que a noticia (da tal doença ceratocone) preocupava-me demais. O médico, porém, e com muita surpresa, tentou me acalmar com várias expressões afáveis, dizendo-me: que ficasse tranqüilo, que isso não era nada grave e que confiasse nos procedimentos que ele adotaria. Realizou um exame topográfico – o primeiro exame topográfico feito após o ato cirúrgico – e falou para o mim que o exame topográfico indicava que estava acontecendo um pequeno problema, porém, não esclareceu exatamente o que era, voltando a insistir para ficar tranqüilo, que isso era de fácil solução. Que iria mandar confeccionar um par de lentes de contato, que resolveria eficazmente o problema. O que o fez verbalmente à contatóloga da clínica , e de uma forma que causou-me estranheza, pois o médico abraçou-a de lado e falou bem próximo do ouvido dela, algo que eu não conseguiu escutar.

Decorridos 15 (quinze) dias, retorno a clinica para receber as lentes, e percebi que eram lentes rígidas, que causam extremo desconforto, mas, a contatóloga afirmou que as lentes eram somente para melhor acomodar as minhas córneas, não possuíam elas nenhum grau de aumento visual. A mesma após a colocação das lentes realizou um teste para aferição da acuidade visual, teste este que é feito com um determinado equipamento, e que emitia uma projeção de letras, que de acordo com esta projeção, um número específico também é projetado ao lado, em destaque. Esse número comporá a segunda parte numérica, após a barra, que juntos indicam a acuidade visual medida. Pois bem, pedi a contatóloga que informasse qual a acuidade obtida, a mesma me afirmou que era de 20/20, o que a pessoa que me acompanhava protestou alegando que aparecera 30 e não 20 como ela afirmava, sem saber o que falar, ela a contatóloga desligou imediatamente o aparelho, o que fez apagar toda a projeção e também o número que lá estava e que era 30. E voltou a afirmar que ele estava com 20/20. Portanto, ela descaradamente mentiu ao fazer tal afirmação que minha acuidade era de 20/20, quando, pelo que demonstrou as projeções do aparelho, a verdadeira medição seria de 20/30 (visão abaixo do normal). Pergunto-me, um insuficiente engano?

Diante de tantas contradições e mentiras e não conformado, me sentindo ludibriado, eu em 11/08/2005 procurei novamente o Dr. Fulano e solicitei a ele um laudo que relatasse todos os procedimentos realizados (cirurgia, tratamentos pós-cirurgico e resultado concreto do exame que fizera em 30/03/2005; a fim de que o esclarecesse a cerca de tudo o que estava acontecendo), assim foi feito pelo Dr. Fulano que emitiu um laudo, laudo este bem elucidativo, e que narra com clareza os fatos acontecidos. Porém, o autor, contesta o referido laudo pela forma como está descrito, dando a impressão e sugerindo para quem o ler, que recebera todas as informações nele contidas da forma como o médico as menciona. O que não ocorreu. Tudo que ali está, fora passado de maneira completamente adversa. Por exemplo: consta no laudo que as lentes mencionadas indicam possuir grau aumentativo, quando foi informado que elas não possuíam nenhum grau e apenas eram para melhor acomodarem as córneas; (...) “Nesta data foi feita nova topografia e pentacam. E qual foi a anterior? (...) “Já apresentando aspecto de ectasia corneana”, o que equivale a dizer, ceratocone. Ora, , neste dia (30/03/2005) o médico apenas me teria dito quê: “estava ocorrendo um pequeno problema, que ficasse tranqüilo, porém, sem explicar exatamente o que era; para o qual, receitou uso de lentes, sem adição de grau, (afirmação da contatóloga). E encerra o presente reafirmando que minha acuidade era 20/20. O que vale ressaltar, que esta acuidade mencionada, não foi aferida pelo Dr. Fulano, e sim pela contatóloga da clínica que mentirosamente a apontou como assim sendo. Acreditamos que assim agiu orientada pelo Dr. Fulano. E faz parte do nefando episódio narrado no parágrafo acima.


Agora, com convicta desconfiança dos pareceres do Dr. Fulano, eu em 07/10/2005 recorri ao Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro, e com decepcionante surpresa é informado que mesmo com o uso das lentes, sua acuidade visual era de 20/30 (o que é inferior a 100% de visão). Comprovando indubitavelmente que todas as informações prestadas até momento pelo Dr. Fulano, eram todas mentirosas.

Pois bem, em 27/10/2006, realizei uma nova topografia com o Dr. Fulano, por que minha visão estava muito ruim, e os espectros luminosos não me permitiam uma visão razoável. Foi-me entregue um laudo do exame, datado de 27/11/2006, onde novamente o Dr. Fulano afirma: “o paciente acima citado apresenta na presente data acuidade visual com correção correspondente a 20/20 em ambos os olhos e o exame atual de topografia mostra que não houve alteração com relação ao exame anterior”. A dúvida suscitada na presente citação do laudo é. O que quer dizer, exatamente o médico? Quando menciona no meu laudo: “acuidade visual com correção correspondente a 20/20. Estaria ele afirmando que minha acuidade visual estava em 20/20 devido à correção cirúrgica? Ou a mesma acuidade visual assim estaria em função de estar o autor usando lentes de contato com grau? Pois, para mim, neste mesmo ato, e insistindo no mesmo argumento, o Dr. Fulano afirmara, novamente, que a finalidade das lentes era, tão somente, para acomodar uma pequena irregularidade das córneas e que não possuíam adição de grau.

E ainda, referindo-se ao mesmo laudo, de forma vaga ele indica quê: “o exame atual de topografia mostra que não houve alteração com relação ao exame anterior”. Existe esta topografia realizada em 27/10/2006 (um mês antes desta consulta), e a topografia anterior mencionada que foi realizada em 30/05/2005 (01 ano, 04 meses e 27 dias), onde visivelmente, as aferições são totalmente diferentes, o que sugere alguma alteração, cabendo a um especialista analisar.

Em 08/01/2007 eu, já não mais acreditando nos procedimentos da clinica, procurei ajuda do oftalmologista Dr. Ciclano, da Clínica X de Botafogo, que após examinar-me, concluiu que era portador de cerca de 13º (treze) graus de miopia, mais 6º (seis) graus de astigmatismo irregular e ceratocone em ambos os olhos, em estado avançado e decorrente de complicações cirúrgicas.

Em 13/08/2007, já profundamente desgostoso, procurei novamente o Dr. Ciclano para saber se finalmente existia uma solução para o seu problema, obtendo do mesmo, a resposta negativa. Enfatizando que a única solução para o momento seria o uso das lentes (lentes rígidas e extremamente desconfortáveis).

Eu que antes possuía uma vida plenamente normal, com a expectativa de um futuro bastante promissor, vejo-se hoje, desmotivado amargando profundo arrependimento. Decepcionado e inconformado, me sentido impotente diante de tal situação, pois, nada fiz para contribuir para este resultado, apenas acreditei nas falsas, levianas e irresponsáveis promessas, que o induziu-me ao ato cirúrgico, garantindo-me total êxito de resultado. Se soubesse da mínima e efetiva chance de insucesso, e o que é pior, que poderia desenvolver grave moléstia, com a qual atualmente sou portador e no caso específico, tida para o momento como incurável, jamais teria e me submetido a tal cirurgia.


Realizei concurso público para o Colégio Naval em 1996 (com 17 anos de idade). Iniciei em fevereiro de 1997 terminando o curso até setembro de 2004, quando me formei em Bacharel em Ciências Náuticas, obtendo a patente de segundo-tenente. E pretendia, após um ano de formado, inscrever-me no curso de formação de piloto da marinha, um antigo sonho.

Possuo hoje, com acuidade visual de 20/30 e fazendo uso das lentes, 70% (setenta por cento) de visão, quando dá pra usar as lentes. Com esta margem visual, fui reformado do quadro de ativos da Marinha, com 29 anos de idade face à grave moléstia que contraiu após mal fadada cirurgia.

Luke, essa pequena novela da minha vida é de muita agonia. Nada tira da minha cabeça que minha córnea foi sublimada mais do que suportaria. Sinceramente, só quero ter a esperança, nessa vida, de um dia saber o que aconteceu comigo e se existe alguma solução pra isso.
Respeitosamente,
Alexandre Medeiros
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Caríssimo Alexandre,

É notável a sua compreenção do próprio caso, você está correto em cada palavra que escreve.

Outro aspecto que precebo é que você, apesar de tudo e de toda a compreensão de seu caso, quer uma solução adequada que possa devolver a você qualidade de vida e um futuro melhor. É importante a determinação, a fé e a confiança de que você irá superar isso.

Qualquer dúvida ou dificuldade em relação as lentes Ultracone, ou aos médicos citados, estarei a disposição. Esqueci de dizer que uma das clínicas mais bem preparadas para a adpatação destas lentes é o IOSB em Porto Alegre. Lá que estas lentes são concebidas e desenvolvidas. O site do IOSB é http://www.iosb.com.br/ e pode ver o blog também http://www.iosb.blogspot.com/

Abraço,
Luke

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Prezado Luke,
sei que existe uma ética médica muito forte. Realmente, acredito que seja necessário que ela exista, afinal o médico não é Deus. E nem todo mundo consegue compreender isso. Mas passados esses anos, realizei muitas pesquisas e concluí que o que ocorreu comigo poderia ser evitado muito facilmente. Se ao menos eu tivesse lido tal termo, se eu tivesse um acompanhamento pré-cirúrgio de maior duração, se eu tivesse feito exames laboratoriais, se somente uma vista tivesse sido operada, talvez eu não estivesse assim. Lembro do médico, que realizou a cirurgia, dizer que meu problema se comparava ao acidente do avião da GOL, no meio a todo joguete de mentiras, dizer que era meu "parceiro". Imagina só um médico, sem nenhuma intimidade com o paciente dizer que é seu "parceiro". E ele e clínica continuam lá, fazendo tudo igualzinho, é só esperar pra ver o próximo caso. Imagina uma clínica ofertar cirurgias, a cada 10 indicações uma sair de graça.
Parece piada, né? Mas não é, conheci uma pessoa que teve os olhos operados sem ônus, porque o irmão conseguiu fazer 10 indicações, como se fosse uma vaga de um cursinho ou uma mercadoria a venda. Será que um lugar desses merece estar incluído e protegido pela ética médica?

Tenho exames pra marcados pra janeiro, pois vou tentar fazer adaptação de lentes ultracone. Senti nesses seis meses uma grande piora da acuidade da minha vista esquerda. E como meu ceratocone continua a evoluir, não sei se seria eficaz correr o risco de colocar o anel de Ferrara, li em um site que para fazer o crosslinking é necessário um córnea com espessura mínima de 400 micras, que não se aplica meu caso. O Dr. Ciclano, aconselhou-me a não mexer cirurgicamente na vista. Acho que é isso.

Vou procurar os profissionais, abaixo citados, conforme sua orientação.

Caro Luke, obrigado pela atenção dispensada e que nosso maior médico e mestre, Sr. Jesus, ilumine seus passos.
Respeitosamente, Alexandre Medeiros.

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Caríssimo Alexandre,
É muito comovente o seu depoimento. As cirurgias refrativas tem sim riscos e a maior parte dos cirurgiões exigem que o paciente assine um termo de "consentimento informado" onde eles reconhecem que foram alertados para possíveis complicações. Esse documento não os livra de processos judiciais, mas é uma prova que eles utilizam caso sejam processados. O fato é que para submeter-se a cirurgia refrativa são necessários vários exames que procuram de todas as formas contraindicar a cirurgia, caso o paciente passe por todos ele tem a indicação, é a forma mais segura de se proceder. Entretanto mesmo pacientes com indicação "segura" podem ter problemas menores ou até maiores por outras variáveis envolvidas na cirurgia, como calibragem do aparelho, temperatura e umidade da sala de cirurgia, microcerátomo utilizado (caso seja LASIK o procedimento) etc. Agora a questão é que existe uma patologia, que não é o fim do mundo, claro que ela é adquirida e que está atrapalhando sua vida e seus planos, mas existem alternativas entre lentes de contato e outras cirurgias. Minha opinião é de que as lentes devem vir antes, por enquanto acredito que você não queira pensar em cirurgia novamente. Tem lentes muito boas e confortáveis como as lentes Ultracone, tem também o crosslinking que impede do problema progredir (caso seja o caso), tem o implante de anéis intraestromais (que também não garante muita coisa) e finalmente depois de tudo tem o transplante de córnea, quando é o caso, em ceratocone extremo, muito avançado. No Rio de Janeiro tem duas clínicas e profissionais que eu acredito que você deveria consultar. A Dra. Mariam Daibes Rachid da Clínica de Olhos do Rio e o Dr. Jose Guilherme Pecego da Clínica OFTAL, ambos em Ipanema. Sugiro que você leve este texto que você me enviou. Desejo-lhe boa sorte, tenha fé e determinação que você vai superar mais essa amigo, não desista! Qualquer dúvida estou por aqui para ajudar no que estiver ao meu alcance. Abraço,Luke

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